terça-feira

História do Chico!

 -LEMBRO-ME QUE, EM DETERMINADA ÉPOCA, QUASE TODOS OS DIAS UM ESPÍRITO  ME ESPERAVA  NO TRAJETO  QUE FAZIA DE CASA AO ESCRITÓRIO EM QUE TRABALHAVA, NA FAZENDA MODELO .ELE ME AGREDIA VERBALMENTE, PROFERINDOPALAVRAS IMPUBLICÁVEIS, E ME AMEAÇAVA  DE MORTE, DIZENDO TER SIDO DESTACADO  PARA TANTO. IA CONVERSANDO  MENTALMENTE E, NÃO RARO, PELA MANHÃ, EU CHEGAVA EXTENUADO AO ESCRITÓRIO, COMO SE ALGUÉM TIVESSE ME SUBMETIDO A UMA SURRA...EMMANUEL  ME RECOMENDAVA MANTER A CALMA,EXPLICANDO-ME QUE , NO MOMENTO,NADA PODERIA SER FEITO – QUE ME CONSERVASSE CALADO E NÃO REVIDASSE ÁS AGRESSÕES.EU NÃO ME RECORDO DE TER OUVIDO TERMOS TÃO CHULOS ! AS VEZES, ELE SE A PROXIMAVA COM UM PORRETE NAS MÃOS E, ESCARRANDO-ME NO ROSTO –ESCARRAVA MESMO! -, ME ACUSAVA DE COVARDE... EU SENTIA QUE, PARA CONSUMAR ALGO DE MAIS GRAVE  COMIGO, ELE PRECISAVA QUE EU  REAGISSE, POIS, SE  ACEITASSE QUALQUER PROVOCAÇÃO, ATRAVÉS DE MEUS PRÓPRIOS FLUIDOS ECTOPLÁSMICOS ESTABELECERIA A PONTE  PARA ATINGIR-ME FISICAMENTE .O AMIGO QUE ME CONDUZIA DE CHARRETE DE CASA AO ESCRITÓRIO, ACOSTUMADO COM AS MINHAS CONVERSAS DESCONTRAÍDAS, FICAVA SEM ENTENDER MEU SILÊNCIO E, DE OUTRAS VEZES, AS PALAVRAS DESCONEXAS PARA ELE, QUE PRONUNCIAVA EM VOZ ALTA, COMO SE ESTIVESSE DIALOGANDO COM UMA SOMBRA; ELE CHEGOU –COITADO!- A PREOCUPAR-SE TANTO COMIGO, QUE RECOMENDOU  AO DR ROMÛLO, NOSSO CHEFE QUE ME DESSE UMAS FÉRIAS PARA EU TRATAR DA CABEÇA...NÃO HAVIA JEITO DE O ESPIRÍTO ME CONCEDER UMA TRÉGUA R, AOS POUCOS ,AQUILO FOI ME INDUZINDO A UMA QUASE DEPRESSÃO. TODO DIA, ERA A MESMA COISA ,E FOI AÍ QUE EU PUDE MELHOR AVALIAR O QUE SUPORTAM AS VITIMAS DE UMA OBSESSÃO INCIDIOSA. QUANDO SE COMPLETARAM MAIS OU MENOS SEIS MESES
DAQUELA PERSEGUIÇÃO, EMMANUEL VEIO COM DR BEZERRADE MENEZES DIZER-ME QUE, FINALMENTE, PROVIDÊNCIAS HAVIAM SIDO ENCAMINHADAS; QUE EU TIVESSE UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA QUE, DENTRO DE MAIS ALGUNS DIAS, O CASO SE RESOLVERIA. O ASPECTO DELE ERA SEMPRE INOVADO, MAS A VOZ SEMPRE ROUFENHA E EU ORAVA SO FALTAVA ME COLOCAR DE JOELHOS NA CHARRETE... PRECE ALGUMA PARECIA SENSIBILIZA-LO. QUANTO MAIS EU ORAVA, MAIS ELE ME XINGAVA !
NUMA TARDE, NO FINAL DO EXPEDIENTE, UMA SENHORA ME ESPERAVA PARA CONVERSAR. ATENDIA-A, PREOCUPADO COM O HORÁRIO, POIS NAQUELA QUARTA-FEIRA TERÍAMOS DESOBSESSÃO NO CENTRO, E EU NÃO DEVERIA ME ATRASAR. -EM QUE PODERIA LHE SER UTÍL MINHA IRMA? –PERGUNTEI-LHE. -O SENHOR ME DESCULPE VIR INCOMODÁ-LO NO SERVIÇO, MAS NÃO TENHO MAIS A QUEM RECORRER-EXPLICOU-SE. -SEI QUE O SENHOR É UM HOMEM CARIDOSO E TENHO UMA NETA DOENTE EM CASA; ELA ESTA COM UMA BICHEIRA NA PERNA QUE NADA CONSEGUE DAR VOLTA... COITADINHA, ESTA SENDO DEVORADA VIVA!EU NÃO TENHO MAIS DINHEIRO PARA MEDICO E REMÉDIO; JÁ VENDI TODAS AS MINHAS GALINHAS E OS PORCOS QUE EU CRIAVA... SIMPATIA BEZIÇÃO ALGUMA TÊM DADO RESULTADO.VIM RECORRER AO SENHOR. POR CARIDADE, VEM COMIGO! – MINHA SENHORA, MAIS DAQUI A POUCO EU TENHO SESSÃO NO CENTRO E NÃO POSSO FALTAR... AMANHÃ DE MANHÃ, EU PROMETO VISITÁ-LA –AMANHÃ DE MANHÃ NÃO SERVE, CHICO ; TEM QUER HOJE E AGORA.ESCUTEI, NITÍDA, A VOZ DE EMMANUEL.
-ENTÃO, VAMOS - RESPONDI A ELA, MUDANDO DE OPINIÃO, SEM QUE A POBRE  MULHER ME ENTENDESSE A SÚBITA ATITUDE
-A SENHORA ME LEVE ATÉ LÁ... A NOITE CAIU DEPRESSAE COMEÇOU ASOPRAR UMVENTO EXECESSIVAMENTE GELADO. DEPOIS DE ANDAR UNS CINQUENTA MINUTOS, CHEGAMOS ÀS PROXIMIDADES DE UM BREJO, ADENTRANDO UMA CASINHA DE UM SÓ CÔMODO, QUE, SINCERAMENTE, ESTAVA PRESTES A DESABAR. – O SENHOR NÃO REPARE, MAS É AQUI QUE MORAMOS... DESDE QUE MEU MARIDO MORREU, TEMOS PASSADO MUITAS NECESSIDADES; EU JANÃO TENHO MAIS FORÇAS PARA CULTIVAR NADA...
A MENINA SUBNUTRIDA TIRITAVA DE FEBRE, ENROLADA EM ALGUNS TRAPOS; DEVERIA TER DE SETE A OITO ANOS. SINCERAMENTE, EU NUNCA HAVIA VISTO TANTA MISÉRIA. ABAIXEI-ME E COMECEI A TIRAR-LHE O PANO DA PERNA, PROCURANDO NÃO ME SENTIR INCOMODADO PELO FORTE  E DESAGRADAVEL CHEIRO DE CARNE EM PUTREFAÇÃO.... –MEU DEUS, O QUE FAZER?PERGUNTEI, QUANDO VI O  ESTADO  DA FERIDA QUE PRATICAMNETE SE ESTENDIA DO CALCANHAR
AO JOELHO DA PERNA DIREITA. SOB A LUZ DA LAMPARINA, EXAMINEI-A E NÃO PUDE CONTER AS LAGRÍMAS... COM CERTEZA, AQUELA PERNA SERIA AMPUTADA. –POR CARIDADE, MOÇO – SOLICITAVA-ME A AVÓ AFLITA-, NÃODEIXE A MINHA NETINHA MORRER, NÃO DEIXE, POIS ELA É TUDO QUE ME RESTOU DE UMA FAMÍLIA QUE SE DESTRUIU...
O PAI DELA SUMIU NO MUNDO,E A MÃE DELA MINHA FILHA SE ATIROU  EMBAIXO DAS RODAS DE UM TREM  EM SETE LAGOAS.O AVÔ DELA DESESPERADO COM O SUICIDIO DA FILHA E EM GRANDE REVOLTA CONTRA DEUS TIVERA UM COLAPSO FULMINANTE.
OREI ,COM TODAS AS FIBRAS DE MEU CORAÇÃOE UTILIZANDO OS DEDOS COMO PINÇA, COMECEI A RETIRAR AQUELAS LARVAS UMA A UMA; NO ENTANTO, QUANTO MAIS EU AS RETIRAVA, MAIS ELAS PARECIAM SE MULTIPLICAR... A MENINA, DE TÃO FRACA, NÃO SOLTAVA SE QUER UM GEMIDO. AGORA SENTADO NO CHÃO DE TERRA UMÍDA, COM A PERNA DELA SOBRE MEU COLO, PERCEBENDO INÚTEIS TODOS OS MEUS ESFORÇOS, AS MINHAS LAGRÍMAS SE FAZIAM MAIS COPIOSAS. FOI QUANDO, ENTÃO DIVISEI O VULTO DO DR BEZERRA DE MENEZES NAQUELA CHOUPANA, EM QUE SE DESDOBRAVA TÃO DRAMÁTICA CENA. EU ME ESQUECERA TOTALMENTE DA SESSÃO NO “MEIMEI” E PERDERA A NOÇÃO DAS HORAS...
-CHICO – DISSE –ME O DR BEZERRA-, UTILIZE AS SUAS LAGRÍMAS COMO SORO FISIOLÓGICO... LAVE, CHICO, LAVE TODAA PERNA DA CRIANÇA COM SUAS LAGRÍMAS!
E ISSO NÃO ME FOI DIFICIL ,PORQUE EU NUNCA HAVIA CHORADO TANTO...QUANDO TERMINEI AQUELE CURATIVO,A MENINA DORMIA E A SUA AVÓ ME OLHAVA ASSUSTADA , COM A LAMPARINA PRESTES A APAGAR NAS MÃOS. DEVO TER SAÍDO DE LÁ QUASE MEIA NOITE E NÃO SEI COMO, SOZINHO, PUDE ACERTAR O CAMINHO DE VOLTA.
NAQUELA NOITE NÃO CONSEGUI DORMIR DE JEITO NENHUM: A VISÃO DAQUELAS LARVAS SE MEXENDO NA PERNA DA MENINA E AQUELE ODOR FORTE NAS NARINAS
NO OUTRO DIA SAI MAIS CEDO PRO TRABALHO PARA QUE NÃO ME VISSEM DE OLHEIRAS E LOGO JÁ AVISTEI O ESPÍRITO COM O PORRETE NA MÃO  PENSEIVQUE IRIA DESFALECER POIS TINHA DESPENDIDO MUITA ENERGIA NA NOITE ANTERIOR  E ME SENTIA ENFRAQUECIDO...PENSEI ....- HOJE ELE ME PEGA- DISSE CONFORMADO. MAS PARA MINHA SURPRESA, ELE ME ACOMPANHOU O TRAJETO INTEIRO SEM DIZER NADA INCLUSIVE TIVE A IMPRESSÃO QUE  SE COMPADECIA DE MIM.
O DR ROÛLO HOMEM ENERGICO, NO ENTANTO COM UM CORAÇÃO BOM E MUITO SENSÍVEL AS DORES  DOS SEMELHANTES .AO NOTAR-ME DIFERENTE TRABALHANDO MAIS LENTO NAQUELE DIA , ELE ME PERGUNTOU O QUE ESTAVA ACONTECENDO.
EXPLIQUEI O OCORRIDO E,à HORA DO ALMOÇO, ELE ME PEDIU QUE O LEVASSE ATÉ A CASA DA MENINA; MANDOU ENCHER A CHARRETE DE MANTIMENTOS E,EM POUCOS MINUTOS LÁ ESTAVAMOS. A SENHORA AVÓ DELA,QUANDO NOS VIU CHEGANDO,CAIU DE JOELHOS E ERGUEU AS MÃOS POSTAS AO CÉU. -O QUE É ISSO MINHA FILHA?- INDAGUEI, DESCONCERTADO. - MILAGRE!MILAGRE!... VENHAM VER!A MENINA,JÁ SEM FEBRE E COM A PERNA SEMI CICATRIZADA,ESBOÇOU UM SORRISO QUANDO ENTRAMOS.- O SENHOR É UM SANTO,”SEU “MOÇO!- FALOU-ME, NÃO CABENDO EM SI DE CONTENTE. – UM ANIMAL! EIS O QUE SOU, MINHA AVÓ  -RETRUQUEI, COM VERGONHA DO MEU CHEFE,QUE,SEM CERIMÔNIA, EMENDOU-É POR ESSE MOTIVO QUE ELE TRABALHA NA FAZENDA MODELO, DONA!
DR ROMÛLO ARRUMOU PARA QUE A AVÓ E A NETA TIVESSEM RECURSOS PARA IR DE ENCONTRO COM SEUS FAMILIARES NA CIDADE DE  AMPARO NO INTERIOR DE SÃO PAULO
PAGOU PREÇO JUSTO POR AQUELE PEDAÇO DE  TERRA E DEPOIS DE DOIS MESES ,EU AS CONDUZI A ESTAÇÃO FERROVIARIA A MENINA DE NOME JOAQUINA CORRIA DE UM LADO PARA OUTRO
E O ESPÍRITO QUE ME PERSEGUIA ERA O AVÔ DA JOAQUINA E SE TRANSFORMOU MEU AMIGO NO MESMO DIA APÓS A PRIMEIRA VISITA  QUE FIZEMOS NA COMPANHIA DO DR ROMÛLO NAQUELE CASEBRE  ELE ME DISSE :
-QUERO PEDIR A VOCÊ QUE ME PERDOE; EU ESTAVA TRANSTORNADO E OUTROS ESPÍRITOS, INIMIGOS SEUS, SE APROVEITARAM DE MIM... ENQUANTO EU PUDER, NINGUÉM HÁ DE LHE ENCONSTAR A MÃO  CHAMA-ME QUANDO PRECISAR... EU NÃO TENHO O SEU  CORAÇÃO, MAS VC NÃO TEM A MINHA FORÇA;SOU UM HOMEM RUDE, NO ENTANTO SEI SER GRATO.... DE HOJE EM DIANTE, VOCÊ PODE CONTAR COMIGO ,PARA O QUE DER E VIER
AGRADECI E O ABENÇOEI E NÃO DISPENSEI SEU OFERECIMENTO; O MÉDIUM PARA CUMPRIR COM  DEVER  QUE LHE CABE ,NECESSITA DO AUXÍLIO DE MUITA GENTE
E NAQUELA NOITE  FOI FEITA A MINHA DESOBSESSÃO ATRAVÉS DA CARIDADE
TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO CHICO RESPONDE DE CARLOS BACELLI 

segunda-feira

Maçonaria e Espiritismo - Palestra Divaldo Pereira Franco

Programa de TV Espírita - Mediunidade - Raul Texeira


A DIMINUIÇÃO DOS ENGAJADOS NO ESPIRITISMO‏

Raul Teixeira responde Revista O Consolador nº 222

– Muitos companheiros têm nítida percepção de que está havendo, no movimento espírita, a diminuição no número de companheiros realmente engajados no Espiritismo, que nele assumem compromissos. Será exagero pensar que muitas pessoas, embora se afirmem espíritas, estejam dando mais atenção à vida material do que à vida espiritual?

Raul Teixeira:

Tal percepção corresponde à mais transparente realidade, no momento humano que se vive no planeta. O materialismo, contra cujas propostas perigosas o Espiritismo chegou ao mundo, vem ganhando terreno em todos os arraiais da humanidade, por mais lamentável que isso possa parecer. Havendo as religiões, na feição humana das suas lideranças, assumido acordos de complacência ou de condescendência com as insinuações mundanas do imediatismo, do lucro material supostamente justificado (assistência social, caridade material etc.), das posições diretivas, muitas vezes bastante lucrativas psicológica ou fisicamente, acabaram por cochilar e não perceber que a hidra devoradora penetrava sorrateira, mas com disposição, os nossos arraiais. Começamos a ter muito mais reuniões para discutir maneiras de conseguir dinheiro e haveres para a manutenção física das instituições, do que para estudar o Espiritismo e refletir a respeito do seu papel em nossas existências. Passamos a disputar os cargos institucionais com acirramento, a fim de administrar os recursos que angariamos (supondo poder fazê-lo melhor que os demais companheiros), e deixamos de lado os cuidados como direcionamento espírita do nosso Movimento. Essa visão imediatista do mundo em geral, sem dúvida, foi diminuindo o fervor, o ardor da fé, o que víamos em médiuns como Yvonne Pereira e em Chico Xavier; acompanhamos a diluição da lucidez argumentativa, que encontrávamos nos raciocínios de Deolindo Amorim, de José Herculano Pires ou de Carlos Imbassahy – apenas para citar alguns dos mais públicos, mais conhecidos servidores do Espiritismo – que, com certeza, são desconhecidos pelas novas gerações de espíritas que, quando muito, já ouviram alguma referência sobre eles. Os trabalhos devotados de ensino espírita ou evangelização; a vontade férrea e ardilosa de modificar a si mesmo; as atividades da desobsessão de qualidade; as reuniões de alentado estudo das obras kardequianas, dos textos clássicos e dos livros da mediunidade respeitável, bem como a abertura da tribuna espírita às mentalidades sérias e comprometidas com o Ideal Kardequiano e o esmero na conduta, identificador daqueles que levam a sério os áureos postulados do Invisível, tudo isso foi ficando em segundo ou em terceiro plano, sob argumentações simplistas de que não se deve ser ortodoxo, ou que não se pode exagerar na dosagem espírita, para que não se façam fanáticos, e por aí em diante. O resultado disso, a curto e médio prazos, não poderia ser diferente do que se vê nos tempos de agora: O descompromisso com o Espiritismo.


Assim, encontramos os centros espíritas abarrotados de gente, que costuma ir para receber, para buscar passes e desencostos, para obter mensagens dos seus falecidos e solução para problemas da vida material. Porém, os que se prestam a fazer algo pelo bem, pelo socorro aos semelhantes, os que se dedicam, envolvidos mesmo com a Causa Luminosa do Consolador, cooperando com os esforços de Jesus Cristo – de quem se fala muito pouco, aliás, como se fala bem pouco das obras excelentes da Codificação Espírita –
 continuam sendo muito poucos; continuam os de sempre que, embora o cansaço físico que chega com a idade, permanecem íntegros e audaciosos, mantendo acesa a chama do Ideal Espírita.

Em tempos em que prevalece nos campos da crença religiosa a propalada teologia da prosperidade material – quando se deseja alcançar um reino dos céus bem terreno, com muitos gozos e festas aqui mesmo, na Terra – não é de admirar que essa tormentosa onda tenha penetrado, por invigilância ou descaso nosso, os arraiais espíritas, antes vivido com maior unção e responsabilidade.


Entrevista concedida especialmente a esta revista em 29 de junho de 2011.

quarta-feira

Mês Espírita

PEIXOTINHO

Grande médium de materialização (efeitos físicos), por seu intermédio se realizaram diversas sessões, que ficaram conhecidas como "materializações luminosas"

O médium Francisco Peixoto Lins, conhecido como Peixotinho, tornou-se famoso por sua notável capacidade mediúnica de materialização e efeitos físicos. Em fevereiro deste ano completaram-se cem anos do seu nascimento. A Revista Cristã de Espiritismo presta uma pequena homenagem a esse trabalhador que tanto contribuiu para a manifestação dos espíritos, mas principalmente para o despertar das pessoas em relação à vida após a morte.
Peixotinho nasceu em 1° de fevereiro de 1905, na cidade de Pacatuba, Ceará. Logo cedo perdeu os pais, Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto e passou a viver com os tios maternos, em Fortaleza. No Estado cearense entrou para o Seminário, pois seus tios desejavam que seguisse a carreira eclesiástica, porém, por questionar os dogmas da Igreja recebeu vários castigos e acabou abandonando o colégio. Aos 14 anos mudou-se para o Amazonas em busca de melhores condições de vida nos seringais, mas dois anos depois resolveu retornar para Fortaleza. Nessa época começava a se manifestar os primeiros sinais de sua mediunidade, em forma inicial de terrível obsessão. O envolvimento espiritual era tão forte que chegou a ficar cerca de 20h em estado cataléptico. Seus familiares quase o deram como morto.
Pouco tempo depois sofreu uma paralisia que o deixou prostrado em uma cama durante seis meses. Foi quando um vizinho que era espírita pediu autorização aos familiares para lhe aplicar um tratamento espiritual com passes, preces, Evangelho no Lar e água fluidificada. Em menos de um mês começou a apresentar uma melhora progressiva. Já restabelecido, passou a freqüentar o centro espírita, e foi na doutrina espírita que encontrou respostas para suas dúvidas mais profundas. Iniciou, também, seu desenvolvimento mediúnico. Peixotinho era dotado de diversas capacidades mediúnicas, principalmente de efeitos físicos e materialização.
Em 1926 foi convocado para o serviço militar e transferido para o Rio de Janeiro, na época, capital da República. Posteriormente transferido para a cidade de Macaé (RJ), fundou o Centro Espírita Pedro. Em 1933 casou-se com Benedita Vieira Fernandes, com a qual teve nove filhos. Devido a sua carreira militar foi transferido diversas vezes para outras cidades, mas acabou retornando ao Rio de Janeiro, onde reencontrou companheiros do Grupo Espírita Pedro, dentre eles, Antonio Alves Ferreira. As reuniões mediúnicas realizadas na casa do amigo foram transformadas, daí alguns meses, no Grupo Espírita André Luiz.
Em 1948 foi transferido para Santos. Nesse mesmo ano encontrou pela primeira vez o médium Chico Xavier, na cidade de Pedro Leopoldo, onde participou de sessões de materialização e de assistência aos enfermos. Daí ocorreram muitos outros encontros.
Em 1949 transferiu-se definitivamente para a cidade de Campos, onde participou dos trabalhos do Grupo Joana D´Arc. Fundou o Grupo Espírita Araci, em homenagem ao seu mentor espiritual.

Materializações luminosas
O delegado e importante pesquisador R. A. Ranieri descreve em seu livro Materializações Luminosas o contato que teve com o médium. Na obra, relata que algumas vezes pôde assistir algumas sessões de materialização na cidade de Pedro Leopoldo, com a participação de Chico Xavier e Peixotinho, sessões que se intensificaram a partir de 1952 por orientação do plano espiritual.
Desde então o delegado foi se aproximando do médium e acompanhando seu trabalho. "Observava-lhe as menores atitudes, mas jamais verifiquei um só gesto seu para enganar ou ludibriar", comenta.
Ranieri teve oportunidade, também, de observa-lo quando presidiu o Grupo Espírita André Luiz, sociedade da qual Peixotinho participava. Acompanhou tratamentos de doentes, cirurgias espirituais e casos de cura relatados pelos próprios pacientes. Segundo a descrição de Ranieri, o corpo de Peixotinho nessas sessões parecia estar morto e todo iluminado interiormente.
Uma das maiores provas que o delegado teve foi a materialização de sua filha Heleninha, desencarnada quando criança. Mas as demonstrações incontestáveis não pararam por aí. Moldagem de mãos, pés e rostos em parafina com as linhas idênticas dos espíritos quando encarnados, frases escritas em letreiros luminosos com a assinatura do autor desencarnado, objetos materializados como pedras e cristais, escrita direta do espírito no papel sem a utilização de canetas ou lápis materiais. Vale lembrar que nessas reuniões foram tiradas fotos de espíritos materializados, e todas receberam autenticação de próprio punho de Francisco Cândido Xavier.
Tantos foram os fatos surpreendentes que Ranieri acompanhou, que tempos depois resolveu passar a anotá-los para publicar um livro. Para isso, pediu permissão à espiritualidade e a autorização foi concedida, inclusive pela famosa enfermeira alemã Scheilla, sempre presente nos trabalhos. Assim foi publicada pela editora FEESP a obra Materializações Luminosas, que se tornou uma referência em pesquisas sobre o fenômeno da materialização.
O médium Francisco Peixoto Lins desencarnou em 16 de junho de 1966 na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, porém seu exemplo de trabalho ao próximo permanecerá sempre imortal.

Efeitos Físicos
Peixotinho foi um grande médium de materialização e efeitos físicos. Por seu intermédio se realizaram diversas sessões de materialização, que ficaram conhecidas como as materializações luminosas. Cabe então esclarecer brevemente como ocorre o fenômeno da materialização.
Para que seja possível os espíritos desencarnados se materializarem, é necessário que se utilizem do ectoplasma projetado do médium ou das pessoas presentes que tenham essa capacidade mediúnica. Essa substância delicadíssima, na visão dos espíritos, é um plasma de origem psíquica que se exala através do médium de efeitos físicos e um pouco dos outros. É expelida por todos os poros, mas em maior proporção pelas narinas, pela boca, pelos ouvidos, ponta dos dedos e ainda pelo tórax. Importante ressaltar que não é o espírito que se materializa e sim o ectoplasma que adere a forma do perispirito do espírito. Por esse motivo é de tamanha importância hábitos saudáveis de vida e principalmente a boa conduta do médium, para que o ectoplasma não sofra contaminações e o trabalho possa ser desempenhado com eficiência.
No Brasil as materializações produzidas pelo médium Peixotinho ficaram famosas. Muitas dessas sessões foram observadas e acompanhadas por estudiosos, devido à seriedade do trabalho de Peixotinho. Disciplinado e consciente de seu papel, desempenhou sua tarefa com grande dedicação e acima de tudo responsabilidade. Tais fenômenos foram necessários para a prova da imortalidade da alma; hoje se faz primordial a luta perseverante no bem. Será o nascimento do amor no coração de cada um que fará se materializar a Centelha Divina.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 31.